NOTA: Eu ofereço estes artigos como forma de familiarização com os trânsitos astrológicos e as cartas do Tarot. Mas não deixam de ser interpretações gerais, para o colectivo. Por isso, não é possível determinar o impacto individual e ganham contornos mais abstractos.
Se quiserem compreender estas questõe a um nível pessoal marquem uma consulta de TAROT ou de ASTAROT, comigo. Ofereço desconto de 25% ou 50%, até AMANHÃ. Saibam mais neste link.
Se gostavam de ter este serviço mensalmente (horóscopo ou taróscopo mensal personalizado), entrem em contacto comigo através do email: [email protected]
Caso tenham alguma questão acerca dos meus serviços, tenho todo o gosto em esclarecer através do email: [email protected]
Astrologia da Semana
Sol em Carneiro
Sol conjunto a Vénus retrógrada em Carneiro
Tiragem da Semana
13 - A Morte
8 de Cálices
5 de Espadas
Baralho: Supernova Tarot, de Federico Salis

Olá, espero que estejam bem!
Adeus inverno, olá primavera! E comecemos um novo ano astrológico.
Esta semana temos um arcano maior, Água (Cálices) e Ar (Espadas) - Emoção e Razão eclipsadas?- tudo em contagem decrescente como a Lua que está a minguar e a caminhar em direção ao Sol, onde se encontrarão numa Lua Nova e Eclipse em Carneiro.
O Sol ingressa em Carneiro, marcando o início do novo ano astrológico. Antes disso, encontra-se com Vénus retrógrada, assinalando o ponto médio da retrogradação do planeta do prazer, beleza e amor. Esta transição acompanha-se de uma Lua minguante a caminhar para o encontro com o Sol, culminando numa Lua Nova e Eclipse em Carneiro. O Eclipse, que só acontecerá no final do mês, traz incerteza, mas também potencial de renascimento. Esta é a altura para confiarmos nas possibilidades que se começam a desenhar mas sobre as quais ainda não temos um esboço definido. Confiar não é aceitar acriticamente, é acreditar que podemos tentar preparar-nos para mudanças e disrupções e, assim, melhor lidar com elas quando o tempo para isso chegar. Esta semana parece fazer-nos confrontar necessidades de transformação e desapego.
O fim do ano astrológico e a chegada da Primavera, simbolizada pela carta da Morte, marcam um período de transição. O 8 de Cálices reforça a necessidade de abandonar o que já não nos serve e nos mantém presas a experiências, vivências e hábitos que nos prendem a um “lugar” que não nos acolhe como merecemos. O 5 de Espadas desafia-nos a refletir sobre os nossos valores, que escolhas faremos neste novo ciclo e como se relacionam com a nossa expressão pessoal no mundo. Fins, transformações, desapegos e reconsiderações acerca das nossas necessidades emocionais e afectivas. Tudo isto me fez pensar sobre Inanna, deusa mesopotâmica de alguma forma correspondente a Afrodite e Vénus, e ao Épico de Gilgamesh, bem como à minha leitura actual Inanna, de Emily H. Wilson, um retelling do Épico de Gilgamesh sob a perspectiva de Inanna.
13 - A Morte
A Morte, carta que corresponde ao signo de Escorpião, simboliza transformação, desapego e transição para novas estruturas e noções de estabilidade e poder. Hoje, na véspera do Equinócio da Primavera, a Lua está minguante em Escorpião, signo da sua queda, reforçando a ideia de encerramento de um ciclo. O fim do Inverno e do ano astrológico preparam terreno para a renovação da Primavera. Como na natureza, também neles há partes que precisam de se decompor para alimentar novas germinações. A Morte, essa grande transformação, implica a capacidade de aceitar que há mudanças que não controlamos nem desejamos, mas que elas são fundamentais e intrínsecas à experiência humana: é necessário haver ciclos de renovação da Terra para que ela possa regenerar-se e é através da putrefação que muitos nutrientes vão alimentar a vida que irá ressurgir naquele solo. Esta carta fala, então, da necessidade de transformação e mudança, desapego, de experimentar a vida e relacionamentos intensa e profundamente, mas também da capacidade de libertar situações e pessoas quando se tornam tóxicas, contrárias à própria vida.
A narrativa do Épico de Gilgamesh ressoa com este arquétipo, especialmente na passagem sobre morte de Enkidu e na busca de Gilgamesh pela imortalidade. O confronto com a mortalidade e a aceitação da mudança são temas centrais desta carta. A Morte ensina que, embora o fim possa ser assustador, ele é necessário para que algo mais significativo possa nascer. Há aqui um chamamento para abandonar resistências e permitir que a mudança aconteça, libertando o passado para abrir espaço para novas possibilidades.
Morte de Enkidu
Sobre a porta e o ferrolho, é espessa a camada de pó; na Casa do [Pó, derrama-se um sossego mortal.] Na Casa do Pó, em que entrei, olhei em redor e, a um canto, vi empilhadas as coroas, e, sentadas, as cabeças coroadas que governaram a terra desde os dias pretéritos, que abasteciam com carne assada [as] mesas de Anu e Enlil, e pão cozido, e que para eles haviam escançado a água dos frescos odres. Na Casa do Pó, em que entrei, residiam os sumo-sacerdotes e os levitas, residiam os extáticos, os purificadores e os ungidores dos deuses cimeiros," residia Etana e residia Sakkan, [e residia] a rainha do Mundo Inferior, Ereskigal. E, perante ela, ajoelhava-se Belet-seri, a escriba do Mundo Inferior: com uma tábua entre mãos, lia para os outros em voz alta. Depois, levantou a cabeça e olhou para mim: "Quem é que trouxe este homem para aqui? Quem foi buscar esta criatura?"
Épico de Gilgamesh, Assírio & Alvim, p.112
A Procura de Imortalidade
Quando, por fim, chegou à montanha Masu, que diariamente vigia a (saída do sol], cujos cumes tocam as fundações do céus e cujo sopé se estende até ao Mundo Inferior, homens-escorpião guardavam a entrada. O seu aspecto infundia terror, o seu olhar era morte, o seu resplendor pavoroso cobria as alturas: no ocaso, como na aurora, são eles a escolta do sol. Ao vê-los, o rosto de Gilgames encheu-se de terror; mas, depois, compenetrado, aproximou-se deles. (…) «Procuro o caminho do meu precursor, Uta-napisti, que, tomando assento na assembleia dos deuses, obteve a vida: da morte e da vida dir-me-á os sigilos.»
Épico de Gilgamesh, Assírio & Alvim, p.124
Não são processos fáceis, mas “don't fear the reaper”:
All our times have come
Here but now they're gone
Seasons don't fear the reaper
Nor do the wind, the sun or the rain
We can be like they are
Come on, baby (don't fear the reaper)
8 de Cálices
Esta carta, associada a Saturno em Peixes (onde se encontra actualmente), sugere que a transformação pode acontecer através do desapego, de abandonar essas experiências que estão a ceifar a nossa vitalidade. Pode ser a altura de iniciar uma caminhada que, tratando-se de A Morte, terá início nos domínios mais profundos em direção a paragens mais leves. Esta é uma carta de Saturno em Peixes: Saturno, planeta Frio e Seco, não é condutor de vida. Pelo contrário, ele mostra as dificuldades e limitações que impedem uma experiência fértil; em Peixes, ele mostra que isso acontece num mundo interior, profundo, expansivo, diz-nos que limites quer impor numa espacialidade e temporalidade de dissolução e receptividades expansivas. Pode ser dificil, mas útil para estabelecer limites emocionais e sensíveis necessários. Este reino das profundezas oceânicas (Peixes) é regido por uma figura real, o deus dos deuses Júpiter e vemos a sua coroa a ser ceifada na carta de A Morte.
É necessário deixar essas fases da vida, de certezas, confortos e privilégios reais e partir em direção ao desconhecido, ao nosso interior, ao inconsciente. O que é que iremos encontramos?
Esta carta tem, literalmente, a representação de um eclipse solar, na semana em que Sol entra no signo do próximo eclipse. Um eclipse é um momento de ocultação, em que não nos é possível ver o caminho à nossa frente, temos de avançar sem certezas, sabendo que algo está a acontecer para além do nosso campo de visão, quando nos for possível ver claramente perceberemos o que foi deixado para trás, o que não acompanhou a mudança oculta.
A citação de Joan de Katherine J. Chen (um retelling ficcional da fase inicial da vida de Joana D’Arc) evoca este momento de transição, onde a viagem não é apenas física, mas também interna:
A journey is a passage to a new place. It is a chance to forget. On the last day, Joan climbs a hill. The hour is dawn; the light casts a mist like a spell over the land, and she is quiet as she takes in the sight beneath her. For nearly two weeks she has lived like a bat, but now her eyes are opened to new things. Her body is the same, but also different. Still, it is impossible to leave behind the past. On the hill, she feels someone’s hand brush her arm, though when she looks there is no one. She hears a voice that seems to speak from the air: “Now go, Joan.”
É o momento de transição entre fins e inícios, ainda que não nos seja possível saber qual a próxima paragem.
5 de Espadas
Também Vénus se encontra numa fase de invisibilidade (sob os raios do Sol - a face que não se mostra na carta) ao seu cazimi (a conjunção ao Sol, no domingo). Aí, Vénus sentir-se-á empoderada pelo abraço solar e pelo marco da chegada a meio do caminho da sua retrogradação, entre a sua condição de Estrela da Noite para Estrela da Manhã. A proximidade ao Sol (cazimi) confere-lhe um brilho especial, mas também lhe rouba parte da sua natureza receptiva e empática. Este momento de disrupção pode ser sentido como um teste aos valores e relações.
A simbologia da Vénus matutina (Lucifer - o que traz a luz) reflete o desejo de se afirmar e brilhar, mas com o risco de arrogância e autoindulgência. No contexto da retrogradação, este é um período de revisão sobre como damos e recebemos amor, como nos vemos nos nossos relacionamentos e que valores realmente nos guiam. Esta é uma carta que corresponde a Vénus em Aquário e sublinha este tom de confronto entre o individual e o coletivo. Será que estas espadas são as que pousámos no 4 de espadas e agora que estamos prontas para a acção recolhemos e levamos connosco no 6 de espadas? Serão aquelas figuras sombras de quem fomos ou de quem nos magoou no 3 e 4 de espadas?
O 5 de Espadas fala de um momento de conflito, onde podem surgir tensões e onde teremos de lutar pelo nosso lugar ao Sol (cazimi). Esta carta alerta para a necessidade de escolher as batalhas com sabedoria. Quem ganha? Quem perde? Vénus em Aquário é cerebral, sociável, mas independente, desapegada e distinta. O 5 de Espadas que nos mostra uma deusa da afirmação pessoal e da disrupção de pressupostos e expectativas, uma das faces de Inanna, deusa do amor, mas também da guerra. Aqui será mais a deusa da guerra ou justiceira, do que a da harmonia e concórdia.
Qual é o caminho mais justo para nós? O que implica seguir por essa via? Estamos preparades para lidar com as consequências? Como podemos preparar-nos e desobscurecer a relação entre o nosso lado emocional e racional?
A propósito de Inanna e Vénus, deixo esta reflexão de Alice Sparkly Kat sobre as diferentes representações de Inanna (deusa que tem correspondência com Vénus):
Inanna/Ishtar's "Descent into the Underworld" is one of the most famous stories about the Babylonian goddess. However, there's another story that complements this one-that of Inanna's rape. In this story, Inanna is sleeping beneath a poplar tree when a gardener, Shukaletuda, strips her of her divine garments and rapes her in her sleep. When Inanna wakes and realizes what happened, she is angry and looks for Shukaletuda to enact her revenge. Three times Inanna looks for him in the mountains; three times Shukale-tuda asks his father for advice, and his father says to hide in the city; and, three times, Inanna enacts plagues on the land when she does not find him. Finally, Inanna visits Enki and asks him to allow her justice. When he agrees, Inanna finally finds Shukaletuda and kills him. Inanna's "Descent into the Underworld," the more famous story, in contrast, tells how Inanna begins her journey to the Underworld dressed lavishly. However, at each of the seven gates of hell, she must take off one article of clothing. As in the story of her rape, Venus is stripped down. By the time Inanna enters hell, she is completely naked and, unprotected, is hung from a hook and unable to escape. In this story, Enki is again the one who rises to the occasion and rescues Inanna. Because of the rules of the Underworld, for Inanna to escape, there must be a replacement for her body in hell. Enki offers three people, and this time, Inanna shows mercy. With her own body at stake, she refuses to subject her servant, her beauti-cian, or her son to hell because she sees that all three have mourned for her. Finally, when she finds her husband has not mourned her one bit and is relaxing under a tree, well-dressed and cheating on her, she chooses him as the one who will replace her in hell and sentences him to eternal damnation. Both of these stories are about divine justice. Inanna's rape (or, as it would have been called in ancient times, her ruin) is compared with her descent. In the first story, Inanna tries three times to enact justice and, in the second story, she gives three pardons or acts of mercy. In both stories, she is stripped of her divine garments in the same way that Venus, the planet, loses its light twice when it gets too close to the sun. While Enki, the creator of life, plays a part in both stories, justice is ultimately Inanna's decision. She is the one to kill her rapist and choose her husband for her own tribute. Venus is a distributor of justice. Venus, which spends about an equal amount of time as both a morning and an evening star, is symbolized by the scales-that symbol of law, justice, and legislation. Back and forth, Venus swings from morning to evening appearance like scales weighing what is just and unjust. The oldest and deepest stories about Venus have always related Venus to law. The two stories about Inanna are about how acts of vengeance and mercy balance one another. Postcolonial Astrology Reading the Planets Through Capital, Power, and Labor, pp: 124-126
Boa-semana a todes!
We scaled the face of reason
To find at least one sign
That could reveal the true dimensions
Of life lest we forget
And maybe it's easier to withdraw from life
With all of it's misery and wretched lies
Away from harm
We lay by cool still waters
And gazed into the sun
And like the moth's great imperfection
Succumbed to her fatal charm
Any maybe it's me who dreams unrequited love
The victim of fools who watch and stand in line
Away from harm
In our vain pursuit of life for one's own end
Will this crooked path ever cease to end
SØPHIA (Sandra)
🖤 Esta Newsletter é um projeto de amor e que desenvolvo com muito empenho e carinho. Se quiseres apoiar o que faço, podes fazê-lo de várias formas. Eu fico muito agradecida!
Se quiseres apoiar o que faço aqui
Também podes subscrever:
Horóscopo Mensal;
Taróscopo Mensal;
Astaróscopo Mensal.Escreve-me para [email protected].
Se souberes de alguém que possa ter interesse no meu trabalho ou nas minhas partilhas, podes sempre partilhar os meus links.
Obrigada!