Astarot da semana

English Version here!

Olá, espero que estejam bem!

Tal como na semana passada, continuamos com um ambiente bastante fleumático (água), marcado pelo estacionamento directo de Marte em Caranguejo (signo cardinal de água) e pela conjunção de Mercúrio e Saturno em Peixes, bem como uma Lua Nova em Peixes (signo mutável de água). Assistimos a um dinamismo celeste entre o início e o fim dos signos de água, sem paragem pelo meio: Escorpião (signo fixo de água). Portanto, uma semana muito dinâmica em termos emocionais.

A tiragem parece reflectir cada um destes trânsitos, exactamente na sua ordem. O Ás de Copas, como um novo ciclo do elemento de água - Marte que (re)começa a sua viagem por Caranguejo, o primeiro signo do elemento de água; O Rei de Paus, uma figura de responsabilidade e poder - Saturno - que não deve descurar a relação (Mercúrio) com o que, ou quem, é impactade pelo seu poder; e, por fim, o Cavaleiro de Paus, o primeiro passo de uma jornada em direcção a ambições, desejos e sonhos - a Lua Nova em Peixes.

É interessante que o elemento água abra a tiragem e que seja seguido por 2 cartas de fogo que representam o dinamismo das modalidades de Caranguejo e Peixes: um que inicia (cardinal) e outro que se adapta, que se move em direcção a novas paragens (mutável).

Esta questão dos elementos remete-me, ainda, para a astrologia do próximo mês de Março, sobre a qual estou a escrever (espero publicar no domingo) e que, desvendo já um pouco do véu, apelido de A Song of Ice and Fire. Pela referência, podem prever que acção não falta no próximo mês, como a última carta desta tiragem, o Cavaleiro de Paus, mostra. Uma carta que se quisermos ler de forma temporal corresponde, precisamente à fase final da semana, ou seja, ao início de Março. Mas Março também vai oscilar entre temperamentos fleumáticos (Água - Peixes) e coléricos (Fogo - Carneiro).

Talvez possamos, então, ler esta última tiragem do mês de Fevereiro como um ‘sneak peek’ de Março e uma forma de reflectirmos sobre o próximo mês. Fica o convite.

O Ás é significativo de potencialidade, de um estado primordial que se apresenta como matéria de desenvolvimento. É o início de um processo. Sendo de cálices, refere-se ao elemento água. Por isso, estamos a falar de processos emotivos, criativos e intuitivos. É uma espécie de Lua Nova em signos de água e vamos ter uma em Peixes na sexta-feira!

Talvez tenhamos estado demasiado focades na nossa sensibilidade receptiva, que é maravilhosa e necessária porque a receptividade é o que nos torna pessoas empáticas, e, por isso, o nosso “cálice” esteja a transbordar de emoções. Quando o nosso lado mais interior transborda e começa a infiltrar-se na nossa realidade exterior somos impelides a lidar com a nossa realidade emocional de forma mais objectiva e activa: começar a dar forma à nossa intuição através de expressões artísticas, criativas, espirituais…; demonstrar e oferecer a nossa empatia e compaixão a quem e causas que precisam de solidariedade; arriscar em novas relações ou novas abordagens a relações existentes; ou iniciar uma relação mais pragmática com as nossas emoções através, por exemplo, de terapia.

Esta tiragem mostra um convite a abraçar e cuidar das nossas emoções e a considerar iniciar uma relação mais extrovertida com as nossas vulnerabilidades, o que exige coragem e uma certa dose de protecção. Algo que Marte em Caranguejo, em queda e o lado marcial de caranguejo - a carapaça dura e as pinças que protegem o suave interior. Com Marte agora directo podemos dar início ao processo de exteriorização destas emoções e vulnerabilidades, a energia interna que esteve estagnada, começa a mover-se. Este movimento poderá ser em direcção ao fogo das cartas seguintes, e à própria pendulação de Vénus e de Mercúrio que no próximo mês vão iniciar retrogradações entre Peixes e Carneiro (signo regido por Marte).1

Esta manifestação e processamento de sensibilidades pode conduzir-nos a alguém que nos apoie nesta jornada (terapeuta; uma pessoa que nos mentorie nas nossas criações ou práticas espirituais, por exemplo); ou podemos ser nós que assumimos a coragem para expressarmos a autoridade e poder pessoal na realização das nossas ambições. O Rei de Paus fala-nos de uma estabilidade na concretização e gestão dos nossos objectivos e propósitos, dos nossos desejos. Eu penso muito na relação entre Água e Fogo como um movimento de manifestação: sensação e emoção do mundo interior que passam a ser manifestadas e concretizadas no mundo exterior. Nesta carta temos, para além da figura real, o Leão e o Lagarto, dois animais associados ao elemento fogo, mas também, com noções de gentileza e generosidade: acção dinâmica que exige sensibilidade.

Em Dicionário dos Símbolos, Jean Chevalier e Alain Gheerbrant sublinham que “ ao contrário da serpente, rival eterno do homem, o lagarto, pelo menos no que diz respeito às culturas mediterrânicas, é um familiar e portanto um amigo da razão. Os hieróglifos egípcios escolheram a sua imagem para significar a benevolência.” Já n´O Livro dos Símbolos, podemos ler que “Vivendo na orla dos desertos do Egipto, o leão veio a representar as sentinelas dos horizontes orientais (nascer do sol) e ocidentais (pôr-do-sol), e das energias criativas da dissolução e da existência.”

E isto parece-me extremamente interessante não só porque o Rei Lagarto e Rei Leão se segue ao Ás de Cálices, mas porque o meio da semana é marcado por uma conjunção de Mercúrio a Saturno, recebidos por Júpiter (regente de Peixes e rei dos deuses), que se encontra exilado em Gémeos. Aqui, Mercúrio está em exílio e em queda e Saturno tem dignidade por termo e face. Temos a figura de autoridade, de imposição de limites e disciplina - Saturno - recebido por um Rei exilado, que não tem os recursos necessários para exercer as suas funções, está debilitado.

O Rei de Paus neste baralho faz-me sempre lembrar a personagem George Costanza num episódio muito específico de Seinfeld, o "The Gum" (1995). Curiosamente, este é episódio que lida com questões de saúde mental, fantasia e ilusões. Tudo tópicos bem do signo de Peixes (Já para não falar que o Carnaval está aí à porta).

A Wikipedia oferece um breve resumo das cenas a que me refiro e aqui podem ver o excerto:2

A mim, parce-me que esta cena ilustra perfeitamente a conjunção de Marte e Saturno em Peixes: uma figura de autoridade (Júpiter) incapaz de expressar as suas qualidades e oferecer os seus recursos (exílio), mas apenas um sucedâneo da sua realeza (máscara), causando, assim uma série de enganos cómicos (Mercúrio em exílio e queda), que levam a confusões acerca de instituições e estruturas de poder e encarceramento (Saturno) relacionadas com a saúde mental (Peixes - não só saúde mental, mas emocional e, acima de tudo, toda a questão da confusão e ilusão da cena).

Assim, a relação mais íntima com a o nosso “cálice sagrado” da carta anterior, talvez tenha alimentado uma consciência acerca daquilo que realmente nos realiza e faz reacender o nosso fogo interior. Dessa forma, a inspiração motivação chegam de forma mais segura e permitem a estabilidade necessária para assumirmos uma postura de confiança em relação aos nossos projectos. Resta saber se a exuberância das nossas motivações é assente em avaliações justas da realidade, ou se estamos perante um rei que “vai nu”.

Projectos esses que vamos querer desenvolver com assertividade e paixão. O Cavaleiro de Paus diz-nos que é o momento de agir, de nos deixarmos guiar pelo calor das nossas paixões e arriscar sem medos. O Cavaleiro é uma figura de ação, de determinação e conquista. É uma figura que corre atrás dos seus sonhos, desejos e ímpetos. Uma figura que se inspira pelas possibilidades de mundos novos a descobrir, que abre as asas para voar em direção a horizontes desconhecidos. É energia, movimento, é uma “fire starter”: “the trouble starter / Punky instigator / (…) the fear addicted / A danger illustrated”

Por isso, tal como quando pegámos no nosso cálice, ao envergarmos o nosso bastão é necessária cautela e alguma protecção. Este cavaleiro tem tendência para a impulsividade e para ignorar a prudência e a espalhar o fogo de forma demasiado errática. Queremos alimentar a nosso fogo, mas não queremos causar incêndios, não queremos queimar ninguém (nem a nós própries), nem queimar pontes que impossibilitem a passagem para a concretização dos nossos objectivos. Esta carta incita-nos a arriscar e a dar forma às vontades, mas sem perder de vista a estabilidade e ponderação para a qual o Rei de Paus nos alertou. Até para que a nossa energia não se extinga demasiado rápido e que seja possível que as jornadas iniciadas sejam sustentáveis.

As cartas desta semana mostram-nos que poderá ser uma altura para “sairmos da casca”. Para nos expressarmos e mostrarmos ao mundo tal e qual como somos, de forma exuberante, autêntica e apaixonada. Para começarmos um viagem em direção ao que nos faz feliz, ancorada naquilo que nos preenche emocionalmente.

A jornada que se inicia pode ser motivada pela Lua Nova a 9º de Peixes, na próxima sexta-feira. Todas as Luas Novas marcam o início de um novo ciclo lunar e esta, de uma novo mês. É uma lunação regida por Júpiter, aquele Rei exilado de que falámos, e ao qual estará a fazer uma quadratura, sublinhando os temas de ilusão e fantasia em relação a emoções/criatividade e actividades intelectuais/mentais/comunicativas.

Como em qualquer aventura, sabemos que vamos encontrar perigos e obstáculos e que teremos de lidar com eles com prudência e discernimento, e que esta passagem de um modo receptivo para um modo activo não torne as nossas acções inconsequentes, nem que o fogo das nossas ambições apague a água da nossa empatia.

Deixo uma canção de que gosto muito, da banda de Jim Morrison, o Rei Lagarto, no less. Esta versão, por Shirley Bassey (que tinha Marte - Fogo - em Escorpião - Água) parece-me ser uma bela expressão da união entre os elementos de Fogo e Água.

Boa semana!!

SØPHIA (Sandra)

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