Hoje, 8 de abril, segunda-feira (dia da Lua), acontece o Eclipse Solar, no 19º de Carneiro. 

Nunca senti um ímpeto forte para partilhar as minhas impressões sobre acontecimentos astrológicos, ou sobre outras artes divinatórias, como o Tarot, exceptuando uma outra partilha nas Stories do meu Instagram.

Mas, na verdade, de há uns anos a esta parte (após uma fascinante e epifânica observação de Perséiades) a Astrologia e o Tarot têm sido presenças ubíquas no meu quotidiano, tanto ou mais do que a leitura.

Não sei se deve à época de eclipses, ou à criação da CASA, que o desejo de aprender de forma mais aprofundada sobre estas questões, enquanto partilha e diálogo com outras pessoas, tomou forma. Provavelmente, deve-se a ambas, acredito que não estão dissociadas: os eclipses atuais ativam, no Nodo Sul em Balança, a minha casa 4 (vida privada, onde tenho o meu Sol) e, no Nodo Norte em Carneiro, a minha casa 10 (vida pública); isto no momento em que Saturno, que natalmente habita na minha casa da criatividade, interesses e hobbies (casa 5), mas também Marte (regente deste eclipse e da minha casa 5), se encontram atualmente em Peixes, a minha casa da espiritualidade, sistemas de crenças e conhecimento (casa 9).

E, pronto, aqui estou a conversar sobre o que tenho pensado acerca deste momento astrológico (a minha Lua [que rege o meu ascendente] em Gémeos sempre a alimentar a minha curiosidade e a necessidade de comunicar, é assim que sinto e me relaciono com a realidade).

Eclipses (astronomicamente)

Um eclipse solar acontece quando a Lua passe entre a Terra e o Sol, bloqueando, temporariamente, a visão do Sol a partir deste nosso planeta. Por isso, um eclipse solar acontece sempre durante a Lua Nova, que é quando o Sol, a Lua e a Terra estão alinhados (sizígia - o alinhamento de 3 corpos celestes), estando a Lua conjunta ao Sol (uma perceção terrestre) e com a sua face não iluminada orientada para a Terra (é por isso que a Lua não é visível a partir da Terra nesta fase).

Já um eclipse lunar, quando a lua passa entre o Sol e a Terra (em oposição ao Sol), só pode ocorrer durante a Lua Cheia. Neste caso é a projecção da sombra da Terra que obscurece a Lua. 

Então, porque é que não temos eclipses sempre que acontece uma Lua Nova e uma Lua Cheia? Devido à órbita inclinada da lua:

the moon’s orbit around Earth is inclined to Earth’s orbit around the sun by about 5 degrees. Twice a month the moon intersects the ecliptic – Earth’s orbital plane – at points called nodes. And if the moon is going from south to north in its orbit, it’s an ascending node. If the moon is going from north to south, it’s a descending node.

If the full moon or new moon sweeps appreciably close to one of these nodes, then an eclipse is inevitable. https://earthsky.org/astronomy-essentials/why-isnt-there-an-eclipse-every-full-moon/

Os eclipses também vêm aos pares (tal como os livros, segundo a Lena haha). Tal como a uma Lua Nova se segue uma Lua Cheia. Hoje é dia de Eclipse Solar em Carneiro, mas no dia 25 de março tivemos um Eclipse Lunar em Balança. E daqui a 6 meses o ciclo repete-se, quando o Nodos Lunares se alinharem novamente com a Terra e o Sol.

A partir das 18h, vai ser possível assistir à transmissão em direto do eclipse no site da NASA:

Eclipses (astrologicamente)

Astrologicamente, os eclipses são considerados eventos de energia bastante volátil e cármicos, devido à sua relação com os Nodos Lunares. Historicamente, têm sido associados a fins e inícios de ciclos, eras, poderes, a transformações intensas, a períodos de instabilidade e de imprevisibilidade. Os Nodos Lunares simbolizam o caminho da alma/espírito. O Nodo Lunar Sul é o ponto celeste que indica o passado, de onde vimos, o lado mais desenvolvido e que, por isso, é o que não necessita de tanto foco da nossa parte, apesar de ser nele que tendencialmente nos refugiamos enquanto espaço de segurança e conforto porque nos é familiar (o que pode impedir a caminhada em direção ao desenvolvimento e propósito individual). O Nodo Lunar Norte é o ponto que aponta para o futuro  traçando o caminho a seguir no desenvolvimentos do nosso propósito. Estes pontos opostos são, assim, entendidos como as lições da vida que nos encaminham para uma experiência da identidade mais harmoniosa e justa connosco própries. 

Tradicionalmente, os eclipses são representados como um dragão (cuja cabeça simboliza o Nodo Lunar Norte e a cauda o Nodo Lunar Sul) esfomeado que engole o Sol e a Lua, para depois os regurgitar. Esta é uma representação que tem origem na astrologia védica:

According to Indian Mythology, Lord Visnu had decided to make the Deities (the seven planets) immortal.  Visnu had churned up the sea in order to extract a sacred nectar called amrita, with the intention of making the planetary Gods immortal. Visnu had all of the planetary deities lined up in order to receive the nectar potion. However, a demon called Rakshasha, who was dragon-like in appearance had sneaked in and disguised itself as a deity, in order to become immortal. Once Visnu had realised that he had been fooled into giving the nectar to the demon he took out his sword and chopped the demon in half. The head of the dragon became Rahu and the tail became Ketu, but now they could not be killed, as they had received the nectar. When the nodes, Rahu and Ketu saw how angry they had made Visnu, they did penance to him and were eventually given planetary status. So Rahu and Ketu are a very powerful force that operates in our lives to control the karmic influences and situations through the Rahu Ketu axis. The symbol of Rahu represents the dragon’s head and Ketu represents its tail. https://vedicastrology.net.au/blog/vedic-articles/rahu-and-ketu/

Os eclipses ativam estes pontes celestes, os Nodos (Rahu - crescimento, desejo, ambição…; Ketu - diminuição, libertação, abandono…) de forma intensa e, potencialmente, caótica. Como um abanão que potencia uma revisão e um reajuste necessários ao equilíbrio entre Rahu e Ketu.

O Eclipse Solar de 8 de abril 

Após esta introdução extremamente reduzida acerca dos eclipses, vamos ao que me trouxe aqui hoje: o Eclipse Solar em Carneiro (19º).

Este eclipse acontece no atual Nodo Lunar Norte, ativando o eixo Carneiro - Balança (signos opostos e, por isso, atualmente o Nodo Lunar Sul está em Balança): do ego e desejos individuais (Carneiro) e da justiça e harmonia relacional (Balança).

Carneiro é um signo cardinal (que inicia a ação), de fogo (paixão, desejo, motivação), regido por Marte (planeta da agressividade, impulsos, coragem). É o signo da expressão do ego, da espontaneidade, da independência, da coragem, da ação e da vitalidade. Mas, também, da competitividade, do individualismo e agressividade. 

Ora, acontece que não são apenas os luminares (Sol e Lua) e o Nodo Norte que se encontram, neste momento, em Carneiro. Temos também Vénus (que ingressou em Carneiro na semana passada); Mercúrio retrógrado e Quíron. Para além disso, o eclipse acontece no grau de exaltação do Sol (19º de Carneiro), a luminária que representa a consciência, identidade e expressão do Eu. É muita expressão de Carneiro neste eclipse. Eu diria até que é um Total Eclipse of the Heart (os anos 80 sempre icónicos).

I don't know what to do and I'm always in the dark

We're living in a powder keg and giving off sparks

I really need you tonight, forever's gonna start tonight

(Forever's gonna start tonight)

Once upon a time I was falling in love

But now I'm only falling apart

There's nothing I can do

A total eclipse of the heart

Once upon a time there was light in my life

But now there's only love in the dark

Nothing I can say

A total eclipse of the heart

Indo por partes. Um eclipse solar conjunto (em grau) a Quíron

Quíron é um planeta menor cuja órbita se encontra entre Saturno e Urano e que deve o seu nome ao centauro mitólogico, conhecido como o “Wounded Healer”. Quíron era um centauro sábio, com conhecimentos profundos em medicina. Era filho Cronos e da oceânide Philyra, que o abandonou, e foi criado por Apolo e Ártemis. Foi Apolo quem o ensinou a arte da medicina, entre muitas outras, e Ártemis quem o educou na arte da caça com arco. 

Para sempre ficou associado à noção de cura (física e espiritual). Mas, também, como símbolo da alteridade e do sofrimento que ser diferente implica: o abandono por parte dos pais e a inadequação entre os outros centauros. Um outro episódio, no final da vida, vai valer-lhe a alcunha definitiva de “Wounded Healer”, ao ser atingido acidentalmente pelo seu amigo Hércules com uma seta envenenada. Apesar dos seus conhecimentos e poderes de cura, o veneno era tão potente que não conseguiu curar-se a si próprio, ficando condenado a uma eternidade de dor. Por essa razão, Quíron propôs a Zeus abdicar da sua imortalidade como moeda de troca para a libertação de Prometeu. Zeus aceitou a troca e Quíron passou a habitar os céus sob a forma da constelação de Sagitário.

Podem ler sobre o mito de Quíron no site da Madeline Miller que o conta muito bem. Aliás, no seu famoso romance The Song of Achilles, Miller dedica grande parte da narrativa a Quíron. Encontram o livro em português e em inglês na Wook.

Na Astrologia, Quíron representa a nossas maiores e mais profundas feridas, os nossos traumas e inseguranças, mas também onde e como procurar a cura: a consciência de que na ferida se encontra uma possibilidade de cura e de transcendência dos nossos bloqueios e limitações. São precisamente estes aspetos que são ativados neste eclipse e, tendo lugar em Carneiro, Quíron está a apontar para as vulnerabilidades da inflamação do ego, as feridas da violência (é impossível não pensar na Palestina), mas também como lidar com estas dores e como manifestar e expressar a nossa identidade. 

O que me leva a Mercúrio Retrógrado em Carneiro

Mercúrio é o mensageiro dos deuses, o que transita entre mundo, deus e planeta do intelecto, da comunicação, das viagens, da curiosidade. É um planeta de transito rápido e quando a sua marcha se encontra retrógrada (mera ilusão ótica em que, a partir da Terra, parece que a sua marcha se inverte) temos a impressão que tudo começa a estagnar, a ‘glitchar’, que a comunicação não flui e que os seus meios tornam-se inoperantes. Na verdade, Mercúrio está a dar-nos uma oportunidade para abrandarmos com ele, para refletirmos, revermos e reavaliarmos as formas como comunicamos e nos relacionamos. 

Estando em Carneiro até 25 de abril, e junto a Quíron, Mercúrio dá-nos uma hipótese de aprendizagem sobre a forma como pensamos sobre nós própries, como comunicamos com as outras pessoas e como podemos encontrar a nossa própria voz sem que ela seja inflamada pelo nosso ego. 

E a Vénus que acabou de entrar em Carneiro 

Vénus, a deusa e planeta da Beleza, do Amor, dos Valores encontra-se em detrimento em Carneiro. Ou seja, a sua expressão é pouco convencional, está fora da sua zona de conforto. É, por isso, uma Vénus guerreira, independente, aventureira. Mas também impulsiva. Toda esta configuração sublinha a necessidade de cultivar a confiança nos nossos valores, a coragem de expressar e procurar autenticidade nas nossas relações, de corrermos atrás da beleza (ou seja do que nos traz harmonia, segurança e bem-estar). É uma Vénus que receberá mensagens de Mercúrio sobre como curar feridas passada e avançar com confiança para uma expressão de amor (próprio e por tudo o que nos rodeia) mais autêntica.  

Curiosamente, ou antes, em sincronia: **EDIT** este eclipse acontece Mercúrio retrógrado (24º de Carneiro) encontra-se no 3º decano de Carneiro que corresponde a Vénus em Carneiro! 

T. Susan Chang diz-nos sobre este decano (entre muitas outras coisas! Por favor, leiam o artigo completo que vale MUITO a pena! E obrigada à querida e sábia Diana por me ter dado a conhecer o trabalho da T. Susan Chang!!):

Another way to think of Venus' guest room in the house of Mars is this: it's a moment of ease in an arduous time, a celebratory milestone on a much longer and harder road.  This is the wedding party, not the long marriage.  It is the roadside motel on the cross-country trip, the rental apartment, the therapist's couch.  It is Rivendell, on the road to Mordor.  Benefic Venus can make an unbearable moment tolerable, in the same way she makes a pleasant moment unforgettable.  I call the 4 of Wands the card of temporary refuge or safe havens. https://www.tsusanchang.com/blog/2019/4/9/reading-the-decans-beauty-weds-the-architect-aries-iii

(Não podia deixar passar em branco a referência a LOTR, quando estou a ler a obra de Tolkien pela primeira vez no âmbito de uma iniciativa de leitura que criei há uns meses: “1 Ano na Terra Média”, em que estamos a ler, enquanto comunidade, The Hobbit e LOTR durante 1 ano, dedicando 3 meses a cada livro).

No Tarot este decanato corresponde ao 4 de Paus:

O 4 de Paus é uma carta de celebração, de comunidade, reunião e estabilidade. Uma carta que nos questiona como é que celebramos as nossas vitórias, como é que praticamos gratidão pelo que temos, como é que nos sentimos em harmonia com a nossa comunidade? O que é nos faz sentir satifeites (Rahu) e nos dá a segurança e estrutura aos nossos sentimentos e valores? Mesmo que seja um momento provisório, quotidiano e fugaz.

Já que falo de Tarot, passo para uma outra carta sobre a qual tenho pensado em relação a este Eclipse: o 8 de Cálices.

Tenho pensado bastante nesta carta porque a associo bastante a eclipses - no baralho Waite Smith, a Lua passa em frente ao Sol. E é a carta de Saturno em Peixes, precisamente onde Saturno se encontra neste momento e durante esta época de eclipses. É uma carta que nos fala de abandono, de deixar para trás a bagagem emocional e inconsciente que já não nos serve e que só nos pesa nesta caminhada (Ketu). Uma carta que mostra que está na altura de embarcar em novas jornadas e reinvenções, iluminadas pela consciência dos nossos pontos de partida e de destino, tal como os eclipses. Também nos propõe tratar das nossas feridas (a pessoa que caminha com dor, apoiade a um bastão) para seguirmos na direção do nosso propósito maior, como Quíron, não só o “Wounded Healer”, mas aquele que habita no desconforto e abandono: duas palavras-chave desta carta.

Falei em Saturno em Peixes, não foi? Essa história não termina no 8 de Cálices. Ela intensifica-se na quarta-feira.

Então, Saturno está em Peixes e na quarta, dia 10 de abril, vai receber a companhia de Marte, numa conjunção no 14º de Peixes. E porque é que esta conjunção é significativa (porque é!) especialmente nesta fase de eclipse? Porque Marte é o regente deste eclipse e é um dos 2 planetas maléficos. O outro é… Saturno! Mas entendemos o conceito de maléficos “with a pinch of salt”, ok? 

Saturno é o planeta da responsabilidade, da disciplina, das restrições, das obrigações. É o planeta do abrandamento, porque se relaciona com os nossos medos e sofrimento, com Cronos, “Senhor do Tempo e do Karma”. É o velho sábio que nos dá importantes lições de e para a vida (e está em declínio em Carneiro, que não gosta nada de obstáculos nem regras). Já Marte, tem-se visto, é o oposto: velocidade, inflamação, raiva, paixão, conflito… E Saturno diz-lhe, “not so fast!!”, mas Marte não quer saber, ainda por cima está a jogar em casa (Carneiro). No entanto, Saturno é paciente, tem o tempo do seu lado:

Now you always say

That you want to be free

But you'll come running back (said you would baby)

You'll come running back (I said so many times before)

You'll come running back to me

Yeah, time is on my side, yes it is

Time is on my side, yes it is

You're searching for good times

But just wait and see

You'll come running back (I said, don't worry darling)

You'll come running back (spend the rest of my life with you, baby)

You'll come running back to me

Ocorrendo no signo de Peixes, estamos no mundo dos sonhos, da dissolução de fronteiras (Saturno pode não gostar nada disto, mas por outro lado pode ser que relaxe um pouco hehe), da empatia, da intuição, mas também de fins (Peixes é último signo do zodíaco) e inícios, de novos ciclos e viagens cósmicas.

Que tensões irão provocar os 2 maléficos nas profundezas do oceano? Uma erupção vulcânica que poderá originar novas ilhas? Novas especialidades e materializações?  (Sem querer ser alarmista, até porque já vivemos e viveremos várias dinâmicas entre estes 2 planetas, mas há 4 anos, em março de 2020, houve uma conjunção dos 2 maléficos, em Capricórnio. Lembram-se de março de 2020, não lembram?)

E para terminar, dia 12 de abril é dia de revelações!

Sexta-feira acontece a conjunção de Sol e Mercúrio retrógrado (cazimi, nome dado ao encontro do Sol com outros planetas) em Carneiro. O que significa que alcançámos o meio do caminho caminho da retrogradação e que as mensagens de Mercúrio serão iluminadas pelos raios do Sol. Que iluminações nos aguardam? Conseguiremos ver com maior clareza as lições deste eclipse?

… I found an island in your arms

Country in your eyes

Arms that chain us

Eyes that lie

Break on through to the other side

… Made the scene

Week to week

Day to day

Hour to hour

The gate is straight

Deep and wide

Break on through to the other side

E vocês, têm interesse em Astrologia e/ou Tarot? Que reflexões vos suscita este Eclipse Solar em Carneiro?

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