Estamos em fevereiro, o Mês da História Negra.
Apesar de não ser uma iniciativa oficialmente reconhecida em Portugal (teve origem nos EUA e, entretanto, o Canadá, o Reino Unido e a Irlanda também se uniram para assinalar e celebrar a História e diáspora africanas), eu tento estar atenta a movimentos e dinâmicas que dêem visibilidade a temas e questões sociais e humanas importantes, principalmente as que visam comunidades marginalizadas. São oportunidade de aprendizagem e conscientização valiosas.
A minha primeira recomendação foi feita na Thread desta semana e, por isso não a incluo nesta lista. Passem lá porque nos comentários vão encontrar muitas e excelentes recomendações!

(Vão encontrar links para páginas da Wook referentes aos livros mencionados. São links de afiliada, o que quer dizer que por cada compra que for feita através destes links eu recebo uma pequena comissão. É uma excelente forma de apoiarem o meu trabalho e eu ficarei muito agradecida!)
10 livros de autoria negra.
5 livros que recomendo
Estendais, Gisela Casimiro (2023)
Não-ficção; Crónicas.
A Gisela Casimiro escreve como um final de tarde de verão. Com graciosidade (e com graça), com leveza e muita beleza. Estendais reune várias crónicas que vão compondo uma manta de retalhos que nos conforta. Não quer isto dizer que todos os retalhos sejam “agradáveis”, pelo contrário. Há muita reflexão e partilha sobre experiências de inequalidade, de discriminação e de episódios de sofrimento. Mas, no fim de todos os textos (ou quase todos) conseguimos sentir o sorriso sereno da Gisela. E, se não fica tudo bem (porque, infelizmente, as injustiças do mundo não desaparecem com sorrisos e raios de sol), pelo menos a esperança numa realidade melhor é-nos oferecida pelas observações quotidianas da autora. São experiências de uma mulher negra em Lisboa. Uma Lisboa contemporânea que é geografia pessoal, local, mas também, global. Gisela Casimiro tece tudo isto com muita perspicácia e empatia.
Freshwater, Akwaeke Emezi (2018)
Realismo Mágico.
Ada é a personagem que acompanhamos desde a infância, na Nigéria, até à sua mudança para os EUA, a fim de seguir os estudos numa universidade norte-americana.
Freshwater, de autoria não-binária, é um romance impressionante, composto por múltiplas camadas que problematizam e materializam diversas questões que vão desde o desafio de compreensão de identidade próprie; saúde mental (Transtorno Dissociativo de Identidade), crenças, mitologias e folclore (particularmente a cultura Igbo). Tudo isto é trabalhado através do modelo narrativo do “coming of age” mas que pela sua ousadia e experimentalismo subverte qualquer género ou fórmula literária.
Beloved, Toni Morrison (1987)
Ficção Histórica; Realismo Mágico.
Tenho a impressão de que já aqui falei várias vezes sobre este livro. Uma dessas vezes foi no post sobre as leituras de abril do ano passado (um mês de excelentes leituras!)
Mas nunca é demais recomendar Beloved. Um livro duro e exigente sobre a experiência de 3 mulheres negras no período imediatamente após a abolição da escravatura nos Estados Unidos. É um quadro complexo acerca do trauma, da maternidade, e da interseccionalidade entre género, história e identidade. Escrito de forma magistral e com elementos surpreendentes. É dos livros mais arrojados que já li e uma excelente companhia para a leitura de não-ficção que recomendei na Thread desta semana.
A Liberdade é uma Luta Constante, Angela Davis (2015)
Não Ficção; Ensaios.
Um livro breve, mas incisivo, de uma mulher inspiradora. Angela Davis, ativista feminista e antirracista, convida-nos a imaginar um mundo mais interseccional, justo e igualitário: livre do patriarcado capitalista e de sistemas de opressão, como as prisões. O livro é composto por entrevistas e palestras suscitadas por reflexões que vão desde a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, até à defesa da libertação da Palestina (o que o torna ainda mais atual, infelizmente). Um conjunto de textos verdadeiramente disruptivos e interseccionais.
Luster, Raven Leilani (2021)
Ficção Literária; Contemporânea.
Como é ser, atualmente, uma jovem mulher negra numa sociedade patriarcal, capitalista e maioritariamente branco? Uma mulher que não se conforma com noções pré estabelecidas acerca do mundo laboral, da ideia de família e da sexualidade. Uma mulher que é confrontada não só com as suas escolhas, mas também com a sua identidade. Edie é uma mulher que não se acomoda, é uma mulher que luta para que outras mulheres também possam celebrar a sua identidade com toda a pompa, circunstância, mas acima de tudo com todo o direito e liberdade.
5 livros que gostava de ler este mês.
Zami: A New Spelling of My Name. A Biomythography, Audre Lorde (1982)
Não Ficção; Memoir.
É Audre Lorde. Quero ler! Tenho imensa curiosidade sobre o que Lorde nos diz neste livro e sobre a forma adotada: uma biomitografia. Sei que vou aprender muito sobre a experiência de sororidade feminina, negra e lésbica.
Kindred, Octavia E. Butler (1979)
Ficção Científica.
Há muito, muito tempo que quero ler Kindred e vou começá-lo hoje. Não sei muito sobre ele, apenas que é um livro de ficção científica e de revisitação crítica da história da escravatura, que reflete sobre racismo e feminismo e que tem representação de mutismo. Recentemente li “Bloodchild”, um conto de Butler e fiquei arrebatada com a sua escrita e reenquadramento especulativo de noções de género. Falei sobre ele na newsletter sobre as leituras de outubro
Sorrowland, Rivers Solomon (2021)
Fantasia; Horror.
Outro romance de autoria não-binária que me cativou assim que li a sinopse. Quero muito ler Rivers Solomon, sobre cujos livros tenho lido sempre excelentes críticas. São, ainda, muito importantes ao nível da representação da diversidade funcional (disability), queer, negra, indígena… Espero conseguir pegar neste logo a seguir a Kindred.
Women, Race, and Class. Angela Davis (1981)
Não-ficção.
É Angela Davis, não preciso dizer mais nada. Só me questiono porque é que tenho este livro há tanto tempo e ainda não lhe peguei.
Afropean. Notes From Black Europe, Johny Pitts (2019)
Não-ficção.
Acho muito importante ler sobre a diáspora a negra na Europa. Eu não conheço muitos testemunhos sobre essa experiência. É uma excelente oportunidade para refletir sobre a diversidade do continente europeu. Espero aprender muito com este livro, em que um dos espaços que o autor visita e sobre o qual reflete é Lisboa.
E vocês, já leram algum destes livros? Pretendem ler algum?
Se quiserem consultar mais datas importantes, eu disponibilizo um Calendário da Visibilidade que podem consultar, duplicar e torná-lo vosso, e para o qual podem contribuir com sugestões de mais datas. A par do calendário, também disponibilizo uma base de dados com mais 200 títulos e informação sobre livros que contribuem para uma maior e mais diversa Representatividade na Literatura. Tal como no Calendário, podem consultar, duplicar e torná-la vossa, e para a qual podem contribuir com sugestões de mais livros.
Uma das possibilidades de utilização destas 2 ferramentas é o planeamento de leituras relacionadas com datas importantes, uma vez que a base de dados é completamente pesquisável e pode ser organizada por projetos de leitura, temas representados, autorias… Estou a organizar, também, os países de edição e/ou representados, mas é, ainda um trabalho em desenvolvimento.
O link abaixo conduz-vos à lista de livros da base de dados com representação negra.
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