Hoje, a meio da nossa semana, a Lua está crescer em Touro e faz-nos desejar estabilidade e viver o dia sem pressa, viver cada momento da forma mais prazerosa, presente e enraizada possível. Este meio da semana pede-nos, assim, conexão, nutrição e segurança. Também Mercúrio, planeta da comunicação e do movimento, ingressa hoje noutro signo de Terra, em Capricórnio. Este não deseja tanto a estabilidade e a segurança a um nível imediato, mas a longo prazo e que que se concretizem de forma duradoura e sustentável: o reconhecimento por todo o trabalho árduo aplicado na conquista dos seus objetivos. É Mercúrio que está a fazer esta viagem e, por isso, esta tem em vista as questões intelectuais, de comunicações, de viagens e das trocas (relações mais ou menos comerciais). E Mercúrio beneficia deste conselho lunar para avançar com cautela e não deixar de apreciar a jornada desta sua nova aventura.

Também as cartas de hoje nos falam de desejos e ambições e da necessidade de abrandamento para chegar à meta que nos serve melhor e da forma mais justa. O deck que utilizei hoje é o Elemental Power Tarot da Melinda Lee Holm e escolhi-o devido à relação visual e intelectual que estabelece com a Natureza, focando-se particularmente nos elementos. Parece-me não só um baralho sensorialmente apelativo, como promotor do foco e atenção que esta semana nos está a pedir para cultivarmos.
7 de Paus
A primeira carta é o 7 de Paus, carta do elemento Fogo - as nossas motivações, paixões e criatividade. O 7 de Paus fala-nos sobre a forma como, por vezes, nos deixamos iludir pela paixão das nossas ações e pela impulsividade da nossa vontade. Quantas vezes escalamos a montanha - que Mercúrio começa agora a escalar em Capricórnio - e ficamos tão fascinadas pela vista do cume do mais alto, pelo feito que conseguimos alcançar ou pela façanha que realizámos, que nos recusamos a abandonar aquele local. Alimentadas pelo Fogo dos nossos instintos, do nosso espírito, conseguimos as maiores proezas. A questão é que, muitas vezes, o brilho dessas conquistas cega-nos e, em vez de continuar a iluminar o nosso caminho, transforma-se num foco demasiado direccionado para nós próprias: no cume de um monte não existem outras superficies onde a luz se possa refletir. Então ficamos paralisadas, incapazes de abandonar o nosso lugar com receio de não voltar a encontrar um sítio cuja vista nos faça sentir tão bem. Nessa necessidade de preservar ao máximo o nosso fogo corremos o risco de não analisar as situações de forma objetiva e de alimentarmos ilusões que nos imobilizam cada vez mais. Tal como Dom Quixote, corremos o risco de risco de, no lugar de moinhos de vento, vermos Gigantes que nos ameaçam. A verdade é que Marte retrógrado em Leão e, agora, em Caranguejo, tem estado numa oposição forte com Plutão em Aquário. Marte é este fogo que se encontra num período de marcha incomum, que o faz ver e fazer as coisas de maneira diferente. Entrando no signo da sua queda (Caranguejo) é provável que tenha dificuldade em exercer a sua determinação, que a sua chama se extinga com a água de caranguejo e que descenda para uma realidade de memórias e ilusões. É possível que Marte encare aquele Plutão, que promove a transformação profunda através da razão, em Aquário, como Gigantes que o atacam e que pretendem desprovê-lo da sua individualidade (Fogo), resultado da inveja dos seus sucessos (Dom Quixote e 6 de Paus). E se o confronto com Plutão for, pelo contrário, catalisador de uma nova aventura em direção a reconfigurações radicais, autênticas e inovadoras da nossa relação connosco próprias e com a comunidade (Aquário)?
12 - O Dependurado
E quando nos vemos envolvidas em tanto fogo, do que precisamos é de água para refrescar as ideias e acalmar os ânimos. O Arcano Maior 12 - O Dependurado vem em nosso auxílio. O Dependurado corresponde a Neptuno, planeta da realidade subconsciente, subaquática, da espiritualidade e da rendição. Sendo o planeta da fantasia e dos sonhos, ele convida-nos a olhar a realidade através de novas perspectivas (de cabeça para baixo!) e a adoptar posturas alternativas para que possamos contemplar a multiplicidade e a diversidade. É o Dependurado que permite que Dom Quixote se questione: “E se? E se os moinhos de vento não forem nada mais do que isso mesmo? E se eu não recear que quem se aproxima de mim o faz apenas por interesse próprio? E se eu não tiver medo de me aventurar na aceitação de mim própria?”. Mas estes exercícios de experimentação radical da forma de estar, pensar e sentir exigem uma grande dose de contemplação e imobilidade (o que a nossa Lua aprecia neste momento), bem como algum sacrifício. Sermos capazes de nos colocarmos numa posição que não é a nossa é algo desconfortável, sem dúvida. Mas nunca poderemos imaginar que novas realidades podem emergir se não formos fornamos receptivas a novas experiências. Mesmo que essas experiências sejam interiores e solitárias. Ou melhor, mesmo porque essas experiências são interiores e solitárias. Para ultrapassar um paradoxo, uma imobilização ou confusão como no 7 de Paus, é importante minimizar os ruídos e distrações para que possamos ouvir, não apenas o nosso ego e o nosso consciente, mas também a nossa intuição e identidade que existe além dos constrangimentos do mundo material para o qual Mercúrio nos está a encaminhar.
XI - A Justiça
Por fim, o que podemos esperar desta semana é que ela nos abra portas para a harmonia, equilíbrio e justiça daquilo que somos, de forma autêntica e integrada. A carta XI - A Justiça corresponde ao signo de Balança, regido por Vénus como Touro, que nos fala sobre Beleza. Mas esta é uma Beleza que assim é porque se baseia na ideia de medida justa. A beleza do que não é excessivo nem escasso. Vemos como nesta carta encontramos um equilíbrio de símbolos e elementos que se relacionam com as cartas anteriores de forma integrada: o coração e os girassóis, que são a paixão do fogo; a árvore que poderia ter suportado o Dependurado durante o seu sacrifício, tal como Yggdrasil, a Árvore da Vida suportou Odin durante o seu sacrifício para alcançar a sabedoria das Runas. E a pena, leve como Ar (elemento do signo de Balança), que simboliza a verdade e o espírito. Sol está quase a fazer uma quadratura a Quíron e Marte a fazer um trígono a Neptuno, aspectos que acontecem até ao final da semana. E esta carta parece indicar que a possibilidade de curar as nossas feridas, de transformar as nossas dores em vitalidade, poderá estar em cima da mesa. Talvez ainda não seja o momento para que isso aconteça, mas vamos, pelo menos, fazer um ‘brainstorm’ sobre como lidar com obstáculos, dificuldades e impasses (7 de Paus). Ao mesmo tempo, parece que Marte se mostra disponível para descer do cume da montanha para dar ouvidos a Neptuno, o nosso Dependurado. Destas possibilidades, iremos colher as consequências justas das nossas ações ou, finalmente, encarar a realidade de forma objetiva - nem Fogo nem Água, mas o Ar que carrega a semente que germina novas realidades. Esta carta descreve o “Julgamento de Osíris”, deus egípcio dos mortos, em que a divindade pesava, na mesma balança, o coração da pessoa falecida e a pena de avestruz de Maat, deusa da verdade, justiça e ordem. Um coração leve indicava que a pessoa tinha vivido de forma íntegra e justa, sendo, assim, digna de continuar para a vida eterna.
Então, esta semana questionamos-mos sobre as nossas ambições, o que nos motiva e faz sentir seguras. Mas, também, de que forma a nossa individualidade molda a visão que temos da realidade. As coisas serão mesmo como as sentimos e estamos a ver? Estaremos demasiado embrenhadas nas nossas lutas pessoais que não conseguimos ver a ajuda que se acerca de nós? Por vezes, é mais difícil aceitar ajuda do que oferecê-la e saber aceitar as nossas vulnerabilidade e o apoio externo pode ser sinónimo de grande sabedoria e maturidade. Mas, para isso, é preciso despojarmo-nos do que nos está a ocupar o espírito e refletir, analisar bem o que é que nos serve realmente, o que nos realiza e quais as escolhas e ações que nos permitem viver de forma mais autêntica. Se formos justas connosco próprias, ouvindo-nos com atenção, é mais fácil e seguro caminharmos no mundo exterior com a confiança de que caminhamos com equilíbrio. E que, mesmo que alguns obstáculos atravesses o nosso caminho, seremos capazes de fazer um julgamento mais equilibrado sobre que precauções e ajustes devemos levar a cabo.
Vale a pena lutar contra moinhos de vento? Onde nos leva mesmo essa luta?
Dom Quixote e os Moinhos de Vento

O Sacríficio de Odin

Odin´s Rune Song
Poetic form: Ljóðaháttr (Song Meter)
1. Hung I was on the windswept tree;Nine full nights I hung,Pierced by a spear, a pledge to the god,To Odin, myself to myself,On that tree which none can know the sourceFrom whence its root has run.
2. None gave me bread, none brought a horn.Then low to earth I looked.I caught up the runes, roaring I took them,And fainting, back I fell.
3. Nine mighty lays I learned from the sonOf Bolthorn, Bestla’s father,And a draught I had of the holy meadPoured out of Ordrerir.
4. Then fruitful I grew, and greatly to thrive,In wisdom began to wax.A single word to a second word led,A single poem a second found.
5. Runes will you find, and fateful staves,Very potent staves, very powerful staves,Staves the great gods made, stained by the mighty sage,And graven by the speaker of gods.
The Poetic Edda. Hávamál, stanzas 138-142
https://www.odins-gift.com/poth/O/odinsrunesong.htm
Julgamento de Osíris

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