Esta é uma semana bastante venusiana, estamos nos primeiros dias de Sol em Balança e Vénus muda de casa.

Mas o protagonista é Mercúrio, embora o planeta abandone o conforto de um dos seus lares, Virgem (o outro é Gémeos), para se focar nas relações e em comunicações justas e equilibradas, ao entrar em Balança.

Também Vénus deixa uma das suas “casas”, Balança (a outra é Touro) para navegar em águas profundas, quando ingressar em Escorpião. Será um regresso às origens? Afrodite (a Vénus grega) é aquela que nasce da espuma das águas que resultaram da castração de Úrano. Mais profundo e escorpiónico que isto é difícil. Só que estamos entre eclipses (o primeiro foi lunar em Peixes, no dia 18 de setembro e o próximo será solar, precisamente em Balança, no dia 2 de outubro) e nada será o que nunca foi.

Vamos espreitar o que andam os planetas a fazer esta semana:

SEGUNDA

🖤 Vénus ingressa em Escorpião

TERÇA

🌗 Lua Quarto Minguante em Caranguejo (15:50)

💡Mercúrio a fazer trígono a Úrano

QUARTA

🌫️ Mercúrio em oposição a Neptuno

QUINTA

🕵️ Mercúrio a fazer trígono a Plutão

💌 Mercúrio ingressa em Balança

SEXTA

Nenhum trânsito a assinalar

SÁBADO

🌘 Lua Minguante Côncava em Leão

DOMINGO

🆚 Sol em oposição ao Nodo Norte

Sol em Balança (até ao dia 22 de outubro)

Balança é um signo Cardinal de Ar regido por Vénus. A sua carta de Tarot é o arcano 11 - A Justiça.

Ontem o Sol ingressou no signo de Balança e deu por terminados os exercícios de preparação, organização e planificação para a nova estação pedidos por Virgem. O início do Outono marcou a entrada do luminar no signo da sua queda, o termo para outono em inglês - “Fall” - é, realmente, apropriado.

Pois é, o Sol não aprecia muito as acomodações de Balança porque estas limitam o tempo da visibilidade diária (os dia encurtam) e o seu brilho perde intensidade (isto no hemisfério norte, claro).

Estamos no primeiro decanato de Balança (23 de setembro - 2 outubro) que corresponde ao 2 de Espadas, regido pela Lua: reclusão, viragem para o interior, o sol (o ego consciente) não brilha quando vendamos os olhos. É uma época de fortalecimento e conhecimento do nosso lado mais profundo, da nossa intuição e equilíbrio entre consciente (Sol) e o inconsciente (Lua). Vamos precisar deste exercício para seguirmos com confiança para o próximo passo: o outono, o início de uma jornada descendente, em que a noite ganha expressão e a terra se torna mais estéril.

É, por isso, uma época que exige uma abertura à exterioridade, às outras pessoas. Como podemos sobreviver aos momentos mais duros isoladas? Conseguimos prosperar na adversidade sem a ajuda de outras pessoas? Dificilmente. E aqui vem Balança, guiada por Vénus, mostrar-nos isso mesmo. Se queremos justiça no mundo (no nosso e no de toda a gente) temos de nos relacionar com ele. Mas os relacionamentos, que Balança privilegia, tornam-nos vulneráveis e responsáveis. Quando a figura do 2 de Espadas abre os braços (A Justiça) deixa o lugar do seu coração exposto e, ao tirar a venda, encara o mundo com uma visão mais profunda e que lhe permite tomar as decisões necessárias.

Não é por acaso que no Tarot a carta 6 - Os Amantes e os todos os 2 representam escolhas e relações. Temos 4 cartas 2 nos Arcanos Menores: 2 de Paus; 2 de Cálices; 2 de Espadas; 2 de Pentáculos.

A carta 2 é A Sacerdotisa - intuição, conhecimento interior, inconsciente, misticismo - uma carta que a Lua e que representa a individuação do 2 de Espadas, indispensável à Justiça (II/11 → 1+1 = 2). A semelhança entre as cartas da Sacerdotisa e da Justiça são inegáveis. E não deixa de ser curioso a integração de ambas no 2 de Espadas: a Lua da Sacerdotisa no céu e as espadas da Justiça a protegerem o mundo interior: a conciliação da sabedoria consciente e subconsciente.

Em todas as relações e tomadas de decisão há sofrimento (seja a relação com o mundo enquanto luta pela justiça social, seja nas amizades, família ou relações amorosas), é o 3 de espadas (as 2 espadas do 2 de Espadas e a espada da Justiça), regido por Saturno (filho de Úrano!), que corresponde ao decanato seguinte.

Mais profundo e escorpiónico que isto é difícil. Mas é possível! No momento do ingresso do Sol em Balança, aquele fazia (e faz) um trígono quase exato a Plutão (Hades) retrógrado em Capricórnio. E este aspeto remete para outra narrativa de descida ao submundo. Falo do mito de Perséfone, rainha do submundo porque foi tornada cativa por Hades, rei do submundo e dos mortos. Hades exerceu o seu poder sobre a filha de Deméter raptando-a e levando-a para o seu reino, o mundo dos mortes, fazendo dela a sua esposa. Deméter não descansou enquanto não convenceu Zeus a libertar a sua filha do cativeiro de Hades. Assim foi. Só que como Perséfone tinha comido um fruto proibido do jardim que o marido lhe ofereceu (rings a bell, right?), Zeus considerou que houve algum consentimento (NOT) por parte da jovem. Dessa forma, a sua liberdade ficou limitada a metade do ano: durante a Primavera e o Verão, Perséfone regressa ao mundo dos vivos, onde reina, juntamente com a sua mãe, o mundo agrícola e natural (o florescimento da natureza); e durante o Outono e Inverno regressa ao submundo onde governa o mundo dos mortos (a decomposição do mundo natural).

RAPE OF PERSEPHONE (APOLLODORUS)

Pseudo-Apollodorus, Bibliotheca 1. 29 (trans. Aldrich) (Greek mythographer C2nd A.D.) :

"Plouton (Pluto) [Haides] fell in love with Persephone, and with Zeus' help secretly kidnapped her. Demeter roamed the earth over in search of her, by day and by night with torches. When she learned from the Hermionians that Plouton [Haides] had kidnapped her, enraged at the gods she left the sky, and in the likeness of a woman made her way to Eleusis . . .

When Zeus commanded Plouton to send Kore (Core) [Persephone] back up, Plouton gave her a pomegranate seed to eat, as assurance that she would not remain long with her mother. With no foreknowledge of the outcome of her act, she consumed it. Askalaphos (Ascalaphus), the son of Akheron (Acheron) and Gorgyra, bore witness against her, in punishment for which Demeter pinned him down with a heavy rock in Haides' realm. But Persephone was obliged to spend a third of each year with Plouton, and the remainder of the year among the gods."

https://www.theoi.com/Khthonios/HaidesPersephone1.html

Curiosamente, o fruto proibido a que Perséfone não resistiu foi uma romã, tal como as romãs que compõem o véu que representa o limiar entre mundos na carta A Sacerdotisa. E se esta história não é de partir o coração (3 de Espadas), não sei qual será.

Falemos, então, de relação, equilíbrio e harmonia entre luz e sombra. Balança é compromisso, saber ouvir, saber falar com cuidado e atenção. Balança está pronta a iniciar (cardinal) a comunicação (ar) necessária para a concórdia. O lado negativo é o desejo de concórdia onde ela não é possível (por exemplo, entre noções de justiça e de abuso presentes no mito de Perséfone), ou uma inação por medo de não ser possível essa harmonia ou receio de decisões erradas.

Vénus, que rege Balança, inspira beleza, amor e valor ao seu mundo, que agora é o da comunicação, dos pensamentos, mente e intelecto (ar). A colaboração e o diálogo é a ‘love language’ de Balança. É por isso que Vénus rege a Arte. A arte é uma dança a duas pessoas, pelo menos (artista e público). Uma negociação entre criação e receção do Belo que, de alguma forma (uma forma muito simplista) é o reflexo de um espelho de perceções e emoções. Por isso, quando falamos no caráter relacional de Balança não nos esqueçamos que a primeira relação que temos de desenvolver é a relação connosco próprias - o espelho é um dos símbolos de Vénus, presente no seu glifo.

Esta relação profunda, por vezes dolorosa, connosco e com o nosso reflexo, com a nossa complexidade - imagino sempre que é este o exercício que a figura do 2 de Espadas está a fazer, inspirada e iluminada pela Lua (reflexo em si mesma) - é o desafio de Balança, é o destino de Perséfone. Para alimentar a Harmonia, a Beleza, a Justiça e a Concórdia é preciso não nos cegarmos pela luz do brilho do Sol. A descida é o impulso necessário para uma subida que ser quer sábia, justa e equalitária. Balança lembra-nos que na nossa relação com as outras pessoas, com o mundo exterior, levamos connosco as nossas espadas e o nosso discernimento: as lâminas/pensamentos/palavras servem para atacar ou para defender?

Apontamentos Breves

Vénus ingressou hoje em Escorpião (onde ficará até ao dia 17 de outubro)

Vénus, a regente do Sol do Balança, encontra-se em detrimento porque é hóspede de Marte, regente de Escorpião, deus da guerra, violência, da vontade e paixões. Marte corta e rege as facas e lâminas (a foice da carta da Morte). E Escorpião é as águas profundas onde estes sentimentos habitam, onde os tabus se instalam, o sexo é revelador (la petite mort) e o medo é rei porque quando o conquistamos protagonizamos as maiores transformações. É poder e intensidade, o que satisfaz imenso Plutão. Estamos realmente no reino de Hades e esta Vénus é a Perséfone do Outono e Inverno. Não está confortável mas tem poder e intensidade, ocupa o trono do submundo, do subconsciente. Corresponde ao 7 de Cálices: o encantamento dos mistérios profundos e o desejo pelo desconhecido, mas também a indecisão que a vontade de escolher corretamente acarreta.

E onde anda Marte, que rege esta Vénus? Em Caranguejo, outro signo Cardinal, desta feita, de Água. Um signo que se refere às emoções, à proteção e nutrição do que nos é importante, à construção de casa/lar para si e para quem lhe é próxima, às fundações, à a ancestralidade…

Parece um regresso de Vénus às origens. Origens bem marcianas e escorpiónicas:

Hesiod, Theogony 176 ff (trans. Evelyn-White) (Greek epic C8th or 7th B.C.) :

"Ouranos (the Sky) came, bringing on night and longing for love, and he lay about Gaia (the Earth) spreading himself full upon her. Then the son [Kronos] from his ambush stretched forth his left hand and in his right took the great long sickle with jagged teeth, and swiftly lopped off his own father's members and cast them away to fall behind him . . . and so soon as he had cut off the members with flint and cast them from the land into the surging sea, they were swept away over the main a long time: and a white foam spread around them from the immortal flesh, and in it there grew a maiden. First she drew near holy Kythera, and from there, afterwards, she came to sea-girt Kypros, and came forth an awful and lovely goddess, and grass grew up about her beneath her shapely feet. Her gods and men call Aphrodite, and Aphrogeneia (the foam-born) because she grew amid the foam, and well-crowned (eustephanos) Kythereia because she reached Kythera, and Kyprogenes because she was born in billowy Kypros, and Philommedes (Genital-Loving) because sprang from the members. And with her went Eros (Love), and comely Himeros (Desire) followed her at her birth at the first and as she went into the assembly of the gods. This honour she has from the beginning, and this is the portion allotted to her amongst men and undying gods,--the whisperings of maidens and smiles and deceits with sweet delight and love and graciousness." https://www.theoi.com/Text/HesiodTheogony.html

Até que nível de profundidade estamos dispostas a mergulhar no encalço dos dos nossos desejos? Quais os limites que impomos a nós e a outras pessoas (Hades e Perséfone)? Como estabelecemos o equilíbrio entre amor e desejo, paixão e luxúria? Que transformações estamos prontas a iniciar? Que tabus, medos e fobias podemos encarar para fortalecer a nossa relação connosco próprias e com as outras pessoas, o mundo e a sociedade? How deep is your love?

Sucumbimos ou temos poder sobre as nossas obsessões?

Do you hear this breath it's an obsessive breath

Can you feel this beat it's an obsessive heart beat

Waiting to be joined with its obsession

I close my eyes but I can't sleep

The thin membrane can't veil

The branded picture of you

The signs and signals show, the traffic lights say go

Again you baffle me pretending not to see, me

I broke into your room, I broke down in my room

Touched your belongings there, and left a lock of my hair

Another sign for you

You screamed into my face get the hell out of my place

Another sign for me? can you forgive me?

For not understanding your ways

You know sometimes you take it all too far

Then I remember it's a game between you and me

A divine test for us two

It's all in my imagination

Yes they even say that our mission, is only

My obsession

Do you hear this breath it's an oppressive breath

Suffocating in the poison of your obsession

Can you feel this beat it's a possessive beat

Your pulse stops in the claws of your obsession

Mercúrio ingressa em Balança (de quinta até ao dia 13 de outubro)

Já falei acerca do aspeto comunicativo e relacional de Balança, qualidades intensificadas pelo ingresso do planeta da comunicação nesse signo. Tal como Perséfone, também Mercúrio descende ao submundo e ascende ao mundo visível, enquanto mensageiro dos deuses e o guia das almas até ao mundo após a morte. Em Balança, Mercúrio irá propor que reflectamos sobre a nossa capacidade de erguer pontes, de sermos agentes de mediação, de diplomacia e de comunicação.

Que os movimentos descendentes desta semana sirvam para criar fundações sólidas para as pontes e comunicações do futuro. Vem aí um eclipse solar em Balança, fundações e estabilidade emocional e mental são importantes!

Boa semana!

Esta Newsletter é um projeto de amor e que desenvolvo com muito empenho e carinho. Se quiseres apoiar o que faço, podes fazê-lo de várias formas. Eu fico muito agradecida!

GOSTAVAS DE APOIAR O MEU TRABALHO?

  • Utiliza o meu link de afiliada Wook:

  • Ou paga-me um café:

Obrigada!

Keep Reading

No posts found