Eu estava a planear regressar mais tarde. Lá para setembro. Os últimos meses foram difíceis, mas os dias bonitos estão a regressar. Hei-de falar sobre isto em breve.

Mas o acaso (neste caso o caos) impeliu-me a um regresso antecipado. E o caos é o Tarot, que tenta encontrar significado nesse mesmo caos. Eu tenho a prática diária de tirar uma todas as manhãs e, quando tenho tempo partilho nas stories do Instagram.

Hoje saiu o Rei de Espadas. Certo. Fiquei com o cérebro um pouco em branco (nada Rei de Espadas, portanto) porque se há cartas que me dão luta são as “court cards” (Rainhas, Reis, Cavaleiros e Pagens). A minha reação é sempre: “Olá! Está tudo?” E pronto, o meu diálogo com estas personagens costuma ficar por aí, e lá me vejo obrigada a pesquisar sempre mais quando a realeza me visita (estou em crer que isto é uma questão de classe: eles é que não se dignam a desenvolver uma conversa com uma plebeia como eu. Enfim e adiante).

Então lá vou eu pesquisar um pouco mais sobre este Rei e descubro que esta carta rege o terceiro decanato1 de Touro, que corresponde aos 20º aos 30º desse signo, e que é regido por Saturno. Foi neste momento que o Rei de Espadas deixou de ser uma figura silenciosa para ser um personagem estrondosa que fez soar todos os alarmes (e me colocou um sorriso na cara ao me mostrar, mais uma vez, as sincronicidades que experimentamos na vida, e que a Astrologia e o Tarot não se cansam de me mostrar):

É que hoje é dia de conjunção de Marte e Úrano, nos 26º de Touro - onde reside a estrela Caput Algol. Então, a carta que me saiu hoje é, precisamente, a carta que rege o decanato em que este trânsito ocorre. Um trânsito que já era famoso antes de o ser. Ou seja, é considerado um dos trânsitos mais importantes deste ano e, por isso, bastante discutido nas comunidades da astrologia, mas que ficou ainda mais famoso a propósito do acontecimento que envolveu Donald Trump há uns dias.

Neste artigo falei sobre Úrano “o planeta das revoluções, das disrupções e das grandes inovações. Da excentricidade, da tecnologia, da independência e rebelião. Da velocidade, das pessoas e das massas. Quando Úrano entra em ação é tempo de esperar o inesperado!”.

E neste falei um pouco sobre Marte, deus da guerra: “Marte é o planeta da agressividade, da motivação, da impulsividade e da vontade. É o fogo das paixões, a velocidade arrebatadora.”

Algol é a estrela na constelação de Perseu e de Medusa que corresponde ao olho petrificante da Górgona decapitada. Medusa é frequentemente associada à instigação de terror, de violência, de ataques e decapitações.

Temos aqui 3 corpos celestes que invocam temas intensos e revolucionários, e que se encontram em Touro, signo que rege a zona do pescoço: qualquer semelhança com acontecimentos reais recentes não é pura coincidência ;)

Como não planeava escrever tão cedo, não preparei nada sobre este trânsito, mas vamos lá:

Marte encontra-se em detrimento, no signo de Touro, não está feliz com o abrandamento que Touro lhe exige. Ora, ao encontrar Úrano vê aí a oportunidade perfeita para se expressar de forma mais genuína. É que Úrano funciona enquanto disrupção, para ele não há meias medidas e não deixa que ninguém o impeça de manifestar a sua vontade e excentricidade, nem que para isso tenha de recorrer à violência. É aqui que Marte vê a sua oportunidade e dá uma mão a Úranio: “win-win situation”. Ora bem, o que é que se pode esperar deste encontro? Caos inesperado, revolucionário, inovador. Um momento “lightning bolt”. Mas em câmara lenta como na TV, porque estamos no território luxuriante e lento de Touro.

Com Espadas, Rei e Saturno temos um pensamento analítico, disciplinado e rigoroso. Orientado para as instituições, para um determinado conservadorismo. Muito poderoso, capaz de inflingir bastante sofrimento, enquanto executor: desejo de justiça a qualquer custo e necessidade de sentenciar. Mas também é um pensamento capaz de conferir a objetividade necessária para lidar com esse mesmo sofrimento, enquanto consciência. É nessa capacidade de “cabeça fria” e pensamento ponderado que reside a possibilidade de transformação e renascimento simbolizada pelas borboletas.

O Rei de Espadas, pela sua postura e espada em riste, remete para o arcano maior A Justiça: as leis, as decisões, o equilíbrio necessário a um mundo justo. É a carta de Balança, signo de exaltação de Saturno. Balança é regida por Vénus.

Ora bem, Vénus rege Touro e encontra-se neste momento em Leão a fazer uma oposição a Plutão que rege Escorpião, onde se encontra a Lua. Isto anda tudo ligado, não é verdade? Temos uma Vénus fogosa (Leão é fogo), segura de si própria e fiel aos seus princípios a enfrentar o senhor do submundo, dos poderes secretos e profundos, transformadores - Plutão, ou Hades. É um confronto que me lembra as tatuagens do Robert Mitchum no filme The Night of the Hunter (Charles Laughton, 1955), um filme bem plutónico, por sinal. E que nos faz questionar quais as nossas motivações: O Poder do Amor ou Amor pelo Poder?

Esta Vénus é uma versão alternativa do mito de Perséfone, em que aqui a deusa do submundo se insurge contra o seu raptor e a sua condição de cativa de Hades. É uma Vénus tipo Medusa: vítima de uma vingança cega que, no desejo de castigar quem causa sofrimento, cai na injustiça e falta de discernimento. Acima de tudo, o mito de Medusa mostra-nos como a violência sexual contra as mulheres, e a culpabilização das vítimas são questões ancestrais que, infelizmente, se mantêm tão atuais. E Medusa não aceita essa condição; Medusa é a voz do sofrimento e injustiças das mulheres nas sociedades patriarcais. É a sua vez de erguer a espada.

Tudo isto acontece em Touro que também nos fala de fundações, recursos e da Terra. E é por isso que me remete para a carta A Torre. Um raio (Úrano) que provoca disrupção violenta (Marte) e que abala as fundações de instituições, daquilo que temos como seguro, do que está enraizado: seja a nível cultural, social, pessoal ou mental. E nesta carta vemos a coroa a ser atingida e o próprio rei a cair do alto do seu poder e privilégio (até as roupas do Rei de Espadas são iguais às da personagem em queda no lado direito de A Torre).

É preciso desconstruir para reconstruir; é necessário desfazer dogmas e preconceitos para criar espaço para novas e mais inteligentes ideias, formas de comunicar e de lutar por um mundo mais justo.

  • O que é a Justiça?

  • Onde podemos ser mais flexíveis e menos dogmáticas?

  • Que novas perspetivas nos podem conduzir a uma revolução libertária e transformadora?

Tudo isto me fez lembrar 2 canções de uma das minhas bandas favoritas, Einstürzende Neubauten. Deixo os vídeos e as traduções das letras para inglês (a banda é alemã). Coincidentemente, hoje vou fazer uma tatuagem so símbolo de Einstürzende Neubauten!

Silence!

General mobilization!

All subjects to be deconditioned1

HEADCLEANER!

Fall into line!

Attention! Unpredictable, forward march!

New wonders, new horrors

tornado for obligations to convention

for the convolutions

in the skull, cyclone

as HEADCLEANER!

Wire brushes to the vermin trash!

Clotted thoughts, frozen now melt

with HEADCLEANER!

Behind us the universe

With us inhumanity

Against universal humanity

any means is right

and proper only the right to the mean average

On parade the psychiatric unit

over-the-top ascetics up front

pumped up

with HEADCLEANER!

Next in the line wild rank and file

just one thing in their heads:

HEADCLEANER!

one half of my dreams is shaved bald

violence

waiting

the first battering on the door

or

the first one from official quarters

with questions

a matchstick caught in my throat

no phrase

through my throat

which would not

start a blaze

don`t wait

get a close shave escape

those were the dreams.

A song, one, two, three:

“All you need is HEADCLEANER!”

cause nothing has been done that can’ t be done

nothing has been sang that can`t be sung

and nothing has been set, so forget how to play the game

it`s easy

nothing has been made that can`t be made

and no one has been saved, that should have been saved

and nothing you can do but forget yourself this time

it`s easy

cause nothing has been known that can`t be known

nothing has been seen that ain`t been shown

nowhere you can be and that isn`t where you meant to be

it`s easy

all you need is HEADCLEANER

The right to attacks of controlled frenzy —

a scout patrol with cosmic inquity

takes it into captivity.

Discipline is soaked

in HEADCLEANER!

Last wind machine before the battle!

This is wherethe storm unit sweeps out

with hurricane deep pore cleansing — never seen again!

Between grey cells and in all the furrows

where hidden fungus allways burrows

they eliminate

it is too late

bombarded with salutes and mowed down

straight with HEADCLEANER!

TABULA RASA!

TABULA RASA!

TABULA RASA!

HEADCLEANER!

This here is in flames, that there has

completely collapsed.

Heavy and thick ash rain.

Dissolved in smoke and fog.

It`s getting light, not a new day

but an approaching fire; stay at a distance:

darkness will return.

The sun is rising, gloomy eclipse of the sun.

Everything is coated with ash

like snow.

We, however, who now know the danger and

who are aware of it, even we cannot yet make

up our minds…

My hands, my arms, my legs, my body and I

the immutable, indestructible, self, I.

The centre, the nucleus, the entire human cell culture.

Am I, is me in every cell?

Though hardly ‘I’ is the sum of the genetic material,

as if the music were lodged inside the radio’s wiring diagram.

Is there anything redundant, solidified, that can be peeled off, that can

be discarded like ballast, sandbags out of a free balloon?

Layer for layer, epidermis, mesenchyme and dermis, fibres, muscles,

tendons, flesh, capillaries, veins, blood vessels, fatty tissue, nerve tracts, bones,

marrow, skeleton. And where does what remain?

The ‘I’ makes claims as long as a tongue, a fidgeting hand

can claim ‘I’? And if possible, that too is claimed headlessly.

(Like cephalophors, with a single stroke, a head shorter)

Reduct!

What happens in love, outreaching oneself or overstepping, or

the numbness, up to a certain point, that point where still ‘something’ remains.

The hollow nut (that has not developed), anyway: development,

as if something had been enveloped, Ariadne’s thread, unrolled to its fullest length,

needing to be used up. Always along the wall, dead certain,

the way out of the garden, the garden maze.

I wander to while away time as if time might otherwise descend on me, like a scavenging beast.

Reduct!

Let’s just reduce the lot on a slow flame!

Reduct!

We peer into the stream of the perished now being swept down the passage of time,

through the delta towards the mouth, out into the gaping cosmic ocean.

Are there any more coming? Do corpses have something left to say?

Besides: Look! Scandal! We are they who you are still to become! We are there! You are not!

But death stays hated to all of human nature

it tears down hope almost to the ground

Reduct!

The foundations are in the wrong place, this house should have been set in the heavens,

so the gods can die, regularly and in temporally classical proportions.

The golden section through the throat of a venerable celestial body that

then, in short thrusts, ejaculates its divine blood into the seraphic summer morning,

because it is forever summer, until one or the other, me included, can say:

Finally, infinitely, left in peace, but moveable, free to make noise, without guilt!

Reduct!

Também deixo uma referência à estrela Algol e a Medusa do universo de Batman da DC Comics.

O nome da estrela Caput Algol vem do árabe raʾs al-ghūl. Nome adotado pela DC Comics para nomear um dos vilões de Batman, também conhecido por “demon’s head”, tal como a estrela Algol.

Ra’as al Gul é o fundador da Liga dos Assassinos e pai de Talia al Gul (a mãe era Melisandre - um nome também conhecido para quem é fã de A Guerra dos Tronos, apesar de não haver relação entre as personagens). Talia é inimiga, amante e mãe do filho de Batman: Damian Wayne.

Hate. Confusion. Fear. Madness. These Impurities surround you, Talia. Over time, Ra's's poisonous lies have grown deep, marbling their way throughout your heart.

Despite being told by her father that her mother had died in childbirth, Talia had later met her mother Melisandre. The woman had posed as a fortune teller, and told her future with the demon star Algol. Algol is a binary star seen as the eye of the Gorgon in the constellation Perseus. It represents Medusa, a once-beautiful woman scorned and turned into a monster whose gaze could destroy men. Before Melisande was dragged away, she counselled her daughter to hide strength by appearing helpless. The fortune made Talia recall her early loving relationship with Batman.

(…)

Talia al Ghul met with her father to discuss Batman, explaining that Dedalus had advised her to evoke the imagery of terrifying female archetypes, such as Kali Ma, Medusa, and Tiamat. Ra's praised her work, but demanded that she end her war with Batman. Talia explained to Ra's that she offered Batman love and Batman chose war. Defying Ra's, Talia's loyalists take control of the League of Assassins, and her monster the Heretic killed Ubu. Ra's remarked that this was the first time he had been afraid for Batman.

Esta Newsletter é um projeto de amor e que desenvolvo com muito empenho e carinho. Se quiseres apoiar o que faço, podes fazê-lo de várias formas. Eu fico muito agradecida!

Keep Reading

No posts found